Évora, 26 de Outubro de 2011
Ao Excelentíssimo Senhor Ministro das Finanças
Exposição
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, Senhor Ministro,
erguemos até vós humildemente,
uma toada uníssona e plangente,
em que evitámos o menor deslize,
e em que damos razão da nossa CRISE.
Senhor! Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca,
a matéria em questão chama-se caca.
Precisamos da merda, Senhor Gaspar!
Da que o Senhor se farta de cagar.
Se os membros desse ilustre Ministério
querem tomar o nosso caso bem a sério;
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade,
e mijem-nos também. Por caridade…
E oiça Senhor Ministro Gaspar,
quando tiver vontade de cagar,
venha até nós, solicito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo, com sossego,
ajeite o cu bem apontado ao rego,
e Senhor Gaspar, siga o conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A nação confiou-lhe os seus destinos?
Então, comprima, aperte os intestinos;
E ai… se lhe escapar um traque, não se importe…
Quem sabe se o cheirá-lo não dará sorte?
Quantos porão as suas esperanças
Num traque do Ministro das Finanças?
E quem viver aflito, sem recursos,
já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza,
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provem da merda que juntarmos nelas.
Precisamos da merda, Senhor Gaspar!
Da que o Senhor se farta de cagar.
…adubos de potassa? Cal? Azote?!...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E de todos os penicos portugueses
durante, pelo meses, uns seis meses.
Sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente eles nos despejem trampa!
Ah terras alentejanas, terras nuas,
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sempre a paixão nostálgica da merda…
Precisamos da merda, Senhor Gaspar!
Da que o Senhor se farta de cagar.
Ah! Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!
Como é triste saber que todos vós
andais cagando, sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura,
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Ah, venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier a gente gosta.
Precisamos da merda, Senhor Gaspar!
Da que o Senhor se farta de cagar.
Diga ao Coelho que também pode ajudar
porque não tem feito outra coisa senão cagar!
(e assim, este país já está a transformar-se
numa grande merda!
Digo eu!)