18 de dezembro de 2010

POESIA - SER POBRE...



78 QUADRAS DUMA ASSENTADA.
QUE GRANDE BODO AOS POBRES.
Afinal há mais uns milhares de pobres do que aqueles que constam nas estatísticas.
E enquanto alguns daqueles (os das estatísticas), se suarem um pouco o corpinho, podem, em parte, resolver o problema, estes, pobres... de espírito, não têm qualquer possibilidade de fazer uma vida normal.
Esteja atento, muna-se de papel e lápis, e confira aqui o seu grau de pobreza.

Ser pobre não é vergonha
nem pertencer à ralé,
também não é ter peçonha,
então ser pobre o que é?

Ser pobre é acidente,
de espírito é fraqueza,
confira aqui com a gente
o seu nível de pobreza.


É possuir um sofá
já velho e sem miolo,
e p'rá perna que não há
utilizar um tijolo!


Pôr quadro de mulher nua
na sala com humidade,
p'ra que não vejam da rua
as manchas de sujidade!


Haver peixe para assar
no assador a carvão,
usando para abanar
uma tampa de cartão.


Não é gastar-se à míngua,
nem que a pagar se furte,
é lamber com a língua
a tampa do iogurte!


É o quebrar a chinela,
objecto sem valor,
e depois consertar ela
usando agrafador!


É o embrulhar as prendas
com papel já usado,
tirado das encomendas
e todo amarrotado!


Comprar romances bem caros,
não ler e com muita lata,
usá-los como anteparos
ou para matar barata!


É ter lâmpada queimada
e ficar a balançar,
para ver se a danada
‘inda volta a funcionar!


Não é almoçar bolacha
nem dever ao doutor,
é o lamber a borracha
para s’apagar melhor!


É com tesoura cortar
o tubo que já não presta,
para se aproveitar
uma niquinha que resta!


Não é não ter frigideira,
nem tão pouco passar fome,
é guardar na geladeira
as sobras que ninguém come!


Não é a pé passear,
nem as unhas que tu róis,
é escrever e desenhar
quando vais aos urinóis!


É o muito ter sofrido,
ter porta sem maçaneta,
tirar cera do ouvido
com a tampa da caneta!


Não é comprar sem poder
aquilo que lhe faz falta,
é no cinema a ler
as legendas em voz alta!


Não é ter frio ou calor,
nem comer o que aparece,
é o chamar de doutor
os ricaços que conhece!


Não é tanto o que se poupa,
nem p'ra pedir ter coragem,
é usar mola da roupa
p'ra fechar a embalagem!


Coleccionar suplemento
que o seu jornal trouxer,
encadernar a contento
e depois nunca mais ler!


Pôr na árvore de Natal
o algodão ao de leve,
não sendo o ideal
dá-lhe uns efeitos de neve!


Guardar os mil pedacitos
dos sabonetes, pachola,
e juntar os bocaditos
depois fazer uma bola!


Nos dias em que chover,
os sapatos embrulhar
num plástico qualquer
p'rós sapatos não molhar!


Ir todo o mundo ao banheiro
sejam dois ou até dez,
p'ra que faça o derradeiro
a descarga uma vez!


Boas pastilhas mascar,
muitas gomas com certeza,
para depois as grudar
debaixo de qualquer mesa!


É a cama reforçar
com umas tábuas de pinho
que sobraram de arranjar
a dispensa do vizinho!


Não é o ficar em brasa
por se viver muito mal,
é fazer-se cola em casa
com farinha, água, sal!


Quando em casa faz obras
não deita fora as carpetes,
pois aproveita as sobras
para fazer uns tapetes!


Ser pobre é ser amável,
cumprimentar toda a gente,
lavar fralda descartável
em água com detergente!


Não é o que não tem nada,
ou não tem qualquer valor,
mas seca roupa molhada
sobre o aquecedor!


O sofá não ter emenda
porque é um monte de cacos,
pôr toalhinha de renda
para tapar os buracos!


Ficar ali especado
no meio de muita gente,
olhando p'ra todo o lado
só p'ra ver o acidente!


É alindar o quintal
com latas velhas usadas,
pôr-lhes terra e no final
umas flores enfezadas!


No restaurante entrar,
perguntar de antemão,
s'a conta pode pagar
com as senhas-refeição!


É carregar no botão

da passagem da estrada,
depois passar, pois então,
com luz verde apagada!


Não é andar na estica,
mas vinagre não comprar,
pois você sempre fabrica
com o vinho qu’azedar!


Ser pobre não é razão
para ter pouca estima,
é antes cuspir no chão
p'ra alguém pisar em cima!


Usar sua bicicleta
pró trabalho, como norma,
dizer que não é forreta
é só p'ra manter a forma!


Ir à loja dos trezentos
e com muita esperança
de ver coisas p’ra eventos,
p’ra presentes ou lembrança!


Guardar cueca furada
velha e com muito sarro,
para depois ser usada
p'ra passar cera no carro!


Com um calor d’abrasar
carro com vidro fechado,
só p'ró pessoal pensar
que tem ar condicionado!


É ter BIC já velhinha
sem tinta, qu'o lixo a leve,
e aquecer a pontinha
para ver s'ainda escreve!


P'rós livros que os seus filhos
devem levar p'rá escola,
com uns trapos e atilhos
costurar uma sacola!


Não é qu'rer e não ter posses,
nem nunca comer galinha,
é fazer em casa doces
par'os anos da vizinha!


Não ter dinheiro na mala
que ele não é elástico,
é dispor vasos na sala
com umas flores de plástico!


É falar p'los cotovelos
e dar-nos com cada seca,
é pôr p'ró lado os cabelos
p'ra disfarçar a careca!


Ser pobre não é "não presta"
nem sequer ter pouca sorte,
é pôr um penso na testa
só por um pequeno corte!


É ir a um casamento
faça chuva ou faça sol,
de camisa, um portento,
de clube de futebol!


É a prestações comprar,
nos dedos não ter anéis,
e depois coleccionar
sabonetes dos hotéis!


Guardar a macarronada
que do almoço sobrar,
pr’á sopa bem temperada
p’ra se comer ao jantar!


Na sua calculadora
para poupar uns trocados,
o rolo não deitar fora,
usá-lo d'ambos os lados!


É a unha não cortar
e com o casco comprido,
usá-lo para tirar
muita cera do ouvido!


Quando alguém quer chamar
de dentro do seu popó,
pôr-se ali a buzinar
e dos outros não ter dó!


Gostar muito de novela
seja ele qual fôr o título,
e chorar muito ao vê-la
no derradeiro capítulo!


Não comprar coisas a pronto,
andar atrás dos rescaldos,
ainda pedir desconto
quando vai comprar nos saldos!


Ter a casa mal telhada,
e com forro à maneira,
pôr bacia esmaltada
para aparar a goteira!


Para além de ter pé chato
que dificulta andar,
passar álcool no sapato
para o amaciar!


Seja vinho ou seja coca
pela garganta desliza,
e depois limpar a boca
com a manga da camisa!


É não qu'rer gastar dinheiro
pôr-se sempre na retranca,
conhecer o jornaleiro
p'ra ler os jornais na banca!


Pôr-se a fazer almofadas
p'ró carro, grande estafa,
usando as cricas achadas
das tampinhas de garrafa!


Pôr-se a cuspir ou lamber,
geralmente dos dois lados,
para assim humedecer
óculos emporcalhados!


O futebol é paixão,
só há guita p'rá geral,
depois salta a vedação
para a bancada central!


Como o pilim é escasso,
no carro muito usado,
para restaurar o chaço
pôr pneu recauchutado!


No seu carro bem careta
já com um velho motor,
colocar uma chupeta
no espelho retrovisor!


Pôr póster do clube amado,
um fervoroso lagarto,
ali bem dependurado
na parede do seu quarto!


Ter quintal com churrasqueira
e raminhos de alecrim,
beber água da mangueira
quando rega o jardim!


É ligar p'rá namorada
como diz o figurino,
mas desde que a chamada
seja a pagar no destino!


Ter casa desarrumada
empestada de cheiretes,
na janela ou escada
ir sacudir os tapetes!


Ir arranjar a antena
que no telhado pifou,
pendurado na empena,
gritar de lá: melhorooouuuu?


Na árvore de Natal
pendurar caixa vazia,
embrulhada muito mal
com papel de fantasia!


Andar com um grão na asa
e afiar a gilete,
levar sempre para casa
o copinho do sorvete!


No restaurante almoçar
nos aninhos da petiza,
e pedir p'ra embrulhar
as sobras daquela pizza!


A caixa da margarina
é bom que se recupere,
pois com ela se imagina
fazer um tupperware!


Mesmo sem ser convidado
e sem ter qualquer engulho,
ir a festa ou baptizado
só p'ra encher o bandulho!


A aflição que sentiu
e chorar sua desdita,
pois a moeda caiu
para dentro da sanita!


Na praia com os amigos
depois de comer arrota,
não receia os perigos
dá "aquela" cambalhota!


O cabelo com marrafa,
já tem buracos nas mantas,
usa fundos de garrafa
para colocar as plantas!


É ir no supermercado
comprar com muito capricho,
"roubar" sacos, o coitado,
para ensacar o lixo!


É palitar o seu dente
com fósforo afiado,
chafurdá-lo ferozmente
depois cuspir o bocado!


ANTES QUERO NÃO TER DINHEIRO QUE SER POBRE! LIVRA!




16 de dezembro de 2010

POESIA


ORA BOLAS!!!

Quando eu era inda miúdo
já fazia umas gracinhas,
as meninas queriam tudo
também as minhas BOLINHAS!

Eu ainda cresci mais
e fazia umas caretas,
as moças, era demais,
queriam as minhas BOLETAS!

Quando já era crescido
fazia umas graçolas,
as moças, bem entendido,
brincavam c'as minhas BOLAS!

Quando mais desenvolvido
eu fazia umas gaifonas,
elas queriam um marido
e também minhas BOLONAS!

Hoje, meus pés paralíticos,
eu já não faço buracos,
os colhões estão raquíticos
fazem-me lembrar dois SACOS!


2 de dezembro de 2010

NÃO JOGO XADREZ PARA NÃO TER QUE COMER A RAINHA EM PÚBLICO


Nos tempos da monarquia
jogar xadrez não convinha,
pois o Bispo bem podia
vir a comer a Rainha!

É uma jogada gira,
pois o Bispo lesto, corre,
à Rainha se atira
come-a atrás da Torre!